A menina e o tambor

Pego meu pequeno tambor e, ainda sem me mostrar, produzo um som acelerado e contínuo por alguns minutos. As crianças param e silenciam, querem saber de onde vêm aquele som tão diferente. Sorrisos se alargam quando me veem caminhando lentamente no fundo da sala onde se encontram. Repito o som enquanto caminho entre eles. As reações são diversas. Enquanto algumas crianças continuam em silêncio para apreciar melhor o som, outras me seguem. Há ainda quem tente imitar o som batendo com as mãos nas mesas.

Uma menina me chama a atenção, com olhos arregalados e mãos agitadas como em um aceno, projeta seu corpo em minha direção e faz o percurso até onde estou com o instrumento em uma rapidez impressionante. Parei por um minuto e deixei que ela olhasse o pequeno tambor, isso não a satisfez. Ouvir aquele som ou olhar aquele instrumento já não lhe bastava. Ela queria apalpá-lo, sentir sua textura e seu feitio, produzir o som que chamara sua atenção, dançar enquanto tocava, tocar enquanto brincava, senti-lo por inteiro como extensão do seu próprio corpo.

Entreguei o tambor para ela que o segurou como um objeto divino. Foi se afastando de mim chacoalhando-o freneticamente.

E a partir daí… Quem ousa impedi-la de ser feliz?

 

Socorro Lacerda de Lacerda

9 comentários em “A menina e o tambor”

  1. Maravilhoso, querida Socorro!
    Só vc e, neste caso, seu tambor tum tum tum, para levar tanta alegria, esperança e inovação, pelo visto, àquela é a tantas meninas e meninos!
    Parabéns!
    Vc é um sopro do novo, do diferente, do encanto e do desfio, na vida tão diferenciará daquelas pessoas todas, inclusive professora e crianças!
    Eu te reverencio e honro!

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    • Obrigada, minha querida amiga, Maria da Graça!
      Seu apoio e parceria são muito importantes para mim e para esse Projeto que tanto amo e que me ajuda a compreender um pouco mais acerca das dificuldades enfrentadas pela educação no Brasil e a tanta gente que me deixa emocionada com tanta crença na possibilidade de fazê-la para todos e todas.
      Um grande abraço!

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  2. Coquita, minha amiga/irmã, seus relatos são como presente para mim, tenho que desenbrulhar com calma, curtir desde o desfazer do laço, abrir as dobras do papel e me deleitar com o prazer de ler os relatos que trazerm vida e boas energias. Eles veem carregados sentimentos, mas também nos faz presente naquele momento, sem ter ido na viagem com você e Lúcio. Obrigado por mais este presente querida!

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