A menina e o tambor

Pego meu pequeno tambor e, ainda sem me mostrar, produzo um som acelerado e contínuo por alguns minutos. As crianças param e silenciam, querem saber de onde vêm aquele som tão diferente. Sorrisos se alargam quando me veem caminhando lentamente no fundo da sala onde se encontram. Repito o som enquanto caminho entre eles. As … Ler mais

À sombra de uma figueira centenária

  A EMEIF Bairro Nhunguara está localizada bem próximo a uma estreita estrada de terra. É uma escola pequena, rodeada por uma vegetação que mistura resquícios de mata atlântica e plantações de banana de muitas variedades. Entre o portãozinho de ferro retorcido e o pequeno pátio coberto, que antecede o refeitório e as salas de … Ler mais

Escola Municipal Severiano Ribeiro Cardoso – Piranguçu/MG

Recém-inaugurada, a EM Severiano Ribeiro Cardoso é um exemplo de arquitetura que dispensa corredores entre as salas de aulas, permitindo que os estudantes sejam vistos e atendidos da forma mais imediata possível. Ao chegarmos ao prédio, percebemos uma infraestrutura invejável, a importância dada a cada lugar que estava sendo ocupado, uma limpeza impecável e pessoas que valorizam cada espaço com total noção de pertencimento e, por isso mesmo, de forma cuidadosa e responsável.

Quando chegamos, o auditório já estava aberto para nos receber. Cadeiras enfileiradas e também a liberdade para quem preferisse sentar-se no chão e ficar mais próximo do palco. Preferi não usar o microfone e não tive dificuldade em ser ouvida. A atenção, o respeito, a participação, as caras e bocas de surpresa e admiração em determinadas partes das histórias que iam sendo contadas, se revelavam como motivos extraordinários para me encher de contentamento e continuar fazendo a contação da melhor forma possível. Ri junto com cada uma das pessoas que estava ali me ouvindo, me surpreendi com as surpresas que provoquei sem ter a noção de que as provocaria de forma tão intensa e verdadeira. Algumas vezes, precisei parar por alguns segundos entre uma descoberta e outra que as crianças faziam, entre sons, olhares, cores e gestos que nos animavam e encorajavam a prolongar aqueles momentos sem pressa de acabar.

Nada poderia ser mais verdadeiro do que o abraço coletivo que recebi ao final do trabalho. Um emaranhado de braços que circulavam meu corpo e outros corpos numa tentativa genuína de agradecer e de demonstrar que o falado e o ouvido tinham se imbricado e contagiado a todos e todas, permitindo a construção de uma memória que certamente carregariam adiante, assim como eu também carregaria, através do que estava sendo sentido e experimentado.

A colcha de retalhos com objetos diversos e brinquedos divertidos, que servira de tapete para o meu ir e vir entre partes das histórias, se transformara em depósito de objetos disputados pelos estudantes, que buscavam explorar seus sons e suas formas no manuseio, no sopro, no balanço, no olhar atento, buscando compreender o funcionamento daquilo que antes lhes era desconhecido. Brincar, inventar e reinventar novas possibilidades na troca do brinquedo, no gesto, no brilho do olho, na respiração ofegante para chegar primeiro aonde os outros estavam. Tudo era motivo para aproveitar o tempo que não sabíamos até quando ia durar. Tenho certeza de que ninguém ali queria que tudo fosse tão efêmero.

Saí cheia de energia, coragem e certeza de que mais do que lições e provas, a educação precisa de brincadeiras e histórias. Temos motivos mais que especiais para continuarmos nossa jornada em outras escolas, em outros lugares e com outros estudantes que torcemos para serem tão generosos, curiosos, atentos, sorridentes e respeitosos como os da Escola Severiano Ribeiro Cardoso.

Saudades!

 

Socorro Lacerda de Lacerda – Coquita

Conte Lá Que Eu Conto Cá
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