A sexta etapa do Projeto de Contação de histórias em escolas rurais – “Conte lá que eu conto cá” – viajou por terras mineiras. Ao longo de quinze dias, viajamos por quatro municípios, treze escolas e vinte sessões de contações de histórias para estudantes das escolas municipais do campo.
Cada cidade e seus moradores, cada escola e grupo de estudantes e educadoras que encontrávamos, nos enchia de contentamento e descobertas pelo encontro e pelo compartilhamento de alegrias e saberes que aquele momento proporcionava a todos nós.
Foi uma etapa muito especial, um reencontro com o projeto e com a explícita confirmação de que contar histórias para crianças e jovens se faz cada vez mais necessário e urgente.
A primeira cidade que visitamos foi Wenceslau Braz, uma pequena e bucólica cidade com uma população de aproximadamente 2,6 habitantes. Um povo acolhedor e simpático, facilmente “puxa” uma boa conversa que pode durar horas, como se todos fôssemos velhos amigos.
No município de Wenceslau Braz, fomos à escola EM João Bárbara da Silva e a CMEI Jacira de Lima Costa, ambas muito aconchegantes, iluminadas e bem cuidadas. Fomos recebidas por pessoas acolhedoras, solícitas, dispostas e carinhosas. As crianças se mostraram animadas e curiosas ao observarem dois estranhos chegando carregados de bugigangas, que mais tarde se revelariam objetos que muito os surpreenderam.
A contação foi uma festa, cada história contada ia provocando espanto, risadas, caras de surpresa e caretas de estranhamento, tudo o que um contador gosta de presenciar.
Depois de três anos sem colocarmos os pés na estrada, devido à pandemia de COVID-19, conseguimos seguir com o nosso projeto de contação de histórias em escolas rurais: Conte lá que eu conto cá.
A região escolhida para recomeçarmos foi a do vale do Rio Ribeira, entre o sul de São Paulo e norte do Paraná, a mesma que havíamos planejado ir antes da forçada interrupção.
Ao chegarmos à cidade de Ribeira, fomos à Secretaria de Educação do Município. Não podíamos ser mais bem recebidos do que fomos, a secretária de educação do município, Paulina Gomes Alves foi tão gentil e nos deixou tão à vontade, que ao começarmos a conversar, já parecíamos velhas conhecidas. Fizemos os combinados para iniciarmos as nossas contações a partir do dia seguinte.
Saímos cedo para irmos à EMEIEF Distrito do Saltinho, primeira escola em que contaríamos histórias. É uma escola rural do município de Ribeira, ainda com salas multisseriadas.
O trajeto até chegarmos à escola foi uma delícia. A estrada extremamente sinuosa, a mata fechada e preservada, a nevoa branqueando aqui e ali a paisagem e belas surpresas a cada curva.
A admiração por tanta beleza foi recompensada por termos voltado com o projeto e com todo o desejo de que sigamos contando histórias, sem interrupções, sem receios, sem duvidar que viajar pelo Brasil, contar e ouvir histórias, conhecer gente e deixar que nos conheçam, são, sem dúvida, elementos e sentimentos que nos energizam e nos fortalecem. Desejamos que nossas histórias deixem em quem as escuta a mesma emoção, alegria, crescimento e contentamento que levamos de cada lugar por onde passamos.
A partir da ida à primeira escola e a todas as outras pelas quais passamos, a supervisora geral Ivanete Cordeira da Silva nos acompanhou e se mostrou bastante solícita, engajada, disposta e receptiva. Nos apresentou a cada um dos gestores, me deu dicas valiosas, tanto em relação às histórias contadas, quanto aos materiais usados, o envolvimento e a forma como deveríamos disponibilizar para as crianças os brinquedos que costumamos levar em nossas contações.
No dia seguinte, fomos à escola EMEIEF Anjo da Guarda. Esta escola é localizada no centro da cidade. Uma escola pequena, bem cuidada e com gente acolhedora que nos acompanhou indicando o melhor lugar para nos instalarmos. Nos deixaram tão à vontade que ficamos seguros e confiantes. Nesta escola fizemos três sessões de contação. Entre alunos e alunas menores ou maiores, a receptividade foi a mesma: alegria, curiosidade, encantamento pelo que falávamos e mostrávamos. Isso nos contagiou de tal forma que ao sairmos de lá estávamos cheios de boas energias e desejo de contar e ouvir muitas outras histórias.
No terceiro dia fomos para a EMEIEF Eunice Dias Batista. Embora soubéssemos que a supervisora Nete nos acompanharia, como tinha feito até então, resolvemos ir mais cedo e sozinhos. Uma forma ousada e inexplicável de pertencimento daquele lugar que já nos parecia tão familiar.
Ao chegarmos à Escola, já nos esperavam ansiosos e afetuosos. Antes de nos organizarmos, fui à porta das salas para cumprimentar professores e professoras, alunos e alunas para demonstrar nossa felicidade por estarmos ali. Uma sala de aula foi suficiente para acomodarmos todos os estudantes. Estendermos nossa colcha de retalhos em lugar tão aconchegante e belo nos fez compreender o quanto é possível ser feliz junto às coisas mais simples. Naquele lugar me senti em casa, me encantei com aquelas carinhas curiosas e ansiosas pelo que eu ia contar, olhos brilhantes refletindo os nossos que transbordavam de alegria. Como foi bom estar ali naquele momento!
Entre uma escola e outra, uma contação e outra, saíamos para conhecer a região. É claro que em uma cidade tão acolhedora, esses novos encontros não seriam diferentes. Conhecemos gente bacana, simpática e sempre disponível a nos receber, dar informações e indicar lugares para irmos, além de mostrar seus talentos e nos presentear com a forma como suas peças e seus produtos eram criados e recriados de forma sutil e sensível, resultando em produtos especiais e cheios de particularidades. Foi assim com o Rodrigo, que nos permitiu acompanhar todo o processo para fazer a rapadura, adoçando nossa estada naquele lugar e nos confundindo entre o cheiro da rapadura com a doçura revestida de experiência e leveza na forma como ia fazendo cada uma das etapas do doce.
A mesma receptividade experimentamos com a artesã Diná Looze e seu esposo, que além de peças belíssimas em cerâmica, ainda produzem um mel puro e saboroso. Com toda sua amabilidade, a Diná fez uma peça de argila com uma folha enorme servindo de decalque (para ela, impressão digital). Ela permitiu que eu tirasse a folha que estava sendo estampada na argila, impossível não se encantar com o resultado, enquanto a folha ia sendo desprendida, toda sua exuberância ia ficando delicadamente marcada por traços retos e curvos. Gente querida que vai ficar sempre em minha memória.
Saímos de Ribeira com a leveza de quem, por alguns momentos, provocou em algumas crianças através das nossas histórias, a curiosidade e espanto tão fundamentais para a aprendizagem de cada um/a de nós. Levamos conosco a alegria por termos tido a oportunidade de conhecer aquele lugar tão especial e aconchegante e a saudade por já termos que ir embora. Acima de tudo carregamos conosco o desejo de voltarmos.
Agradecemos especialmente a todas as crianças que nos ouviram e interagiram conosco, que contaram suas histórias, que riram e se emocionaram com as nossas.
Também agradecemos a forma calorosa e carinhosa com que fomos recebidos pela secretária de educação Paulina Gomes Alves e a coordenadora geral, que carinhosamente chamamos de Nete. Também agradecemos a todo/as os professores e professoras pelo carinho e disponibilidade com que nos receberam e nos incentivaram a continuar por esse caminho que nos faz tão bem.
Toda nossa gratidão.
Até a próxima!
Lucio Lacerda e Socorro Lacerda
Esta é nossa 5ª Etapa na cidade de Ribeira/SP
Essa é nossa 5ª etapa do projeto: Conte lá que eu conto cá
Thiago era um príncipe que tinha tudo. Num consumismo irrefreável, o rei e a rainha davam-lhe todos os presentes que ele poderia ou não imaginar e desejar. Mas uma grande tristeza havia no coração de Thiago – ele queria ter um sonho. Vai pedir conselho ao avô e encontra uma explicação – é dentro dele que está adormecido o sonho, basta despertá-lo.