Subindo, sempre subindo…

Tinham nos avisado que a Cidade de Santo Antonio do Jacinto ficava em cima da montanha e que “quando você pensa que já chegou, ainda tem mais estrada para subir”. De tanto ouvirmos isso, fomos prontos para uma longa subida. O que não falaram com a mesma ênfase foi que para chegar aquela cidade a paisagem era tão exuberante que subir não foi nenhum problema.

Apesar de termos percorrido 107 quilômetros de estrada de terra, o trajeto foi feito com tranquilidade e, mesmo quando algum trecho da estrada não era dos melhores e o Lucio reclamava falando que era uma vergonha ainda ter estradas naquelas condições, eu justificava dizendo que, se a estrada fosse asfaltada certamente não teríamos tempo para apreciar tamanha beleza.

Entre montanhas e vegetação nativa da mata atlântica, pedras gigantescas pareciam ter sido colocadas a mão, estrategicamente, como decoração de um jardim particular. Pedras cortadas e seus retalhos despojados por caminhos íngremes que não teria a menor beleza se fosse diferente daquilo. A montanha vista ao longe, ora de um lado do caminho, ora do outro, de repente aparecia à nossa frente, majestosa, imponente, como se nada além dela precisasse existir. Uma brincadeira de esconde-esconde que só a natureza e os caminho traçados pelos pés de homens e mulheres que por ali passaram durante séculos era capaz de nos fazer entrar nessa brincadeira.

Quando mais uma gigantesca pedra surgiu diante de nós, nos demos conta que havíamos chegando a Santo Antônio do Jacinto, mas e onde está a cidade? Nos perguntamos duvidosos de que a cidade era realmente aquelas poucas casas, ao pé daquela pedra, que as deixavam ainda menores.

Resolvemos perguntar para alguém que encontrássemos pelo caminho. Não foi fácil encontrar “alguém”. As ruas (ladeiras) estavam desertas e isso também nos inquieto. Em baixíssima velocidade fomos seguindo o que nos parecia ser uma rua até avistarmos mais adiante, uma jovem que seguia a passos lentos:

– Por favor, aqui é a cidade de Santo Antônio do Jacinto?

Um pouco assustada pela inesperada chegada, ela respondeu que sim, com bastante simpatia.

– E como fazemos para chegarmos até o centro da cidade?

Ela olhou, surpresa e indecisa como que admirada por não sabermos encontrar o centro de uma cidade tão pequena e respondeu erguendo o braço em direção a rua a nossa frente.

– Pode ir rompendo!

Ir rompendo. Embora no dicionário romper signifique eclodir, aparecer, brotar, desabrochar, nascer, surgir. Dali pra frente “ir rompendo” foi nosso mote para seguir em frente, não pegar atalhos, não parar no meio do caminho, não desistir, vislumbrar um belo futuro, ir além e, consequentemente, chegar aos lugares onde desejávamos chegar e encontrando pessoas, que assim como nós, também estavam desejosas por romper com a mesmice do que lhes eram impostos.

Vamos romper juntos! Vamos contar histórias!

Socorro Lacerda de Lacerda

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