Pequena, charmosa, limpa e com funcionários e funcionárias para lá e para cá tentando deixar a escola ainda mais bonita. Foi assim que observamos a escola Maria Quitéria, logo ao chegarmos em seu hall de entrada. Diretora, professores e professoras, coordenadores e algumas crianças estavam agitadas, descalças, carregando bandeirinhas coloridas e tecidos de chita floridos. Estavam contentes e animadas tentando fazer uma decoração para a festa junina da escola. Todas as pessoas estavam na mesma condição e com o mesmo objetivo, a hierarquia que em tantos lugares fica visível, com autoridades querendo permanecer fechadas em suas salas como destaques, aqui estava diluída no desejo de que tudo acontecesse da forma mais prazerosa possível. Só soube o cargo de cada uma daquelas pessoas mais tarde, quando me apresentei e gentilmente também se apresentaram e foram carinhosamente me mostrar a escola. Fiquei surpresa por perceber que toda aquela organização não se dava de forma isolada ou devido à grande festa junina que se aproximava. Todos os espaços da escola eram tratados com muito carinho e cuidado. Salas de aulas com bonitos painéis relativos a atividades desenvolvidas com os alunos e alunas e cantinhos de leitura cuidadosamente preparados. No pátio esse cantinho era organizado por um grande panô com bolsos em tamanho suficiente para serem colocados livros diversos. Também tinha uma brinquedoteca que, apesar dos poucos recursos, estava organizada e pronta para ser usada. A sala da diretora era organizada o suficiente para que a escola funcionasse: além de uma pequena mesa onde ela trabalhava e atendia às pessoas, pelos cantos da sala era visível a inúmera quantidade de materiais diversos. Livros, pastas, materiais de alunos e prendas para a festa junina. A referida sala era o retrato de quem a ocupava: acolhedora de gente e de coisas, de portas abertas a quem quisesse ou precisasse entrar, pronta para servir ou ser servida.
O pátio da escola era amplo e claro. De seu interior era possível observar uma deslumbrante vista das serras que ladeiam a cidade e um pequeno açude que estava cheio, para alegria de todos. A paisagem me encantou e por algum tempo fiquei observando cuidadosamente aquele verde, aquelas águas, aquelas casas simples e aparentemente aconchegantes. O som ao fundo, ficava por conta do barulho de algumas crianças que vinham chegando e dos adultos que opinavam sobre onde ficaria melhor determinado adorno.
Como chegamos cedo, não nos demos conta de que o tempo foi passando rapidamente e mal percebemos a transformação que a escola e as pessoas foram sofrendo. Já não vimos mais as pessoas descalças e animadas correndo de um lado para outro. Sem que percebêssemos, a decoração havia sido feita e as pessoas tinham tido tempo de ir até suas casas trocarem de roupa e se prepararem para se mostrarem para o evento do qual participaríamos. Abrimos as malas com nossos pertences e os espalhamos em nossa colcha de retalhos para curiosidade de todos e alegria nossa, por percebermos que não se contentavam apenas em nos olhar naquele espaço: perguntavam, queriam saber e também falavam de suas experiências. Algumas crianças e professores que estudam e trabalham no primeiro turno foram convidadas e também estavam lá. O piso que havia sido lavado a pouco tempo foi o lugar ideal para se acomodarem e ouvirem as histórias que eu contaria.
Cada história contada era ouvida atentamente, participaram, se encantaram. Todos faziam questão de demonstrar a satisfação que sentiam por estarem ali. Todo o tempo em que ficamos na escola nos sentimos acolhidos, respeitados, admirados. Não houve contratempos nem indiferenças. As mesmas pessoas que corriam em nossa chegada para deixarem a escola bonita, também corriam agora para não perderem nenhuma palavra do que falávamos e do que ouvíamos. O colorido da decoração da escola que se preparava para a festa junina se misturou ao colorido dos tecidos e dos vários objetos espalhados pelo chão que eu havia usado anteriormente. Mais colorido ainda, eu enxergava nos olhos ativos e altivos das crianças de várias idades, de vários jeitos de se comportar, das várias maneiras de se expressarem diante dos outros.
Os mesmos materiais que costumávamos deixar à disposição de todos, após contarmos as histórias, foram utilizados pelas crianças para criarem outras histórias, em que, diferente das que eu havia contado, os personagens se misturavam em uma mesma história para dar conta de tanta imaginação. Uma ocarina ia além do som que produzia e virava um colar que enfeitava a princesa, agora “real” que saíra dos contos inventados e contados por quem tinha se apropriado da tal peça. Piões rodopiavam pátio afora em verdadeiros bailados, sincronizados ou não, pouco importava, pois o que valia mesmo era a disposição que cada criança exibia para fazer girar por mais tempo seu pião, transformar em mais herói seu personagem, mais bela sua princesa, mais amigos os já amigos que se deliciavam em suas trocas pelos brinquedos e objetos que logo se transformariam em novos objetos que outros ainda não tinham percebido que habitavam ali.
Uma delícia de se ver, uma maravilha de se experimentar, em tão pouco tempo, o ir e vir entre o real e o imaginário. Só crianças curiosas e atentas podem te levar sem que você se dê conta de que tudo já estava ali, nós adultos, não nos permitimos sair do óbvio, do racional. Que pena!
Quando íamos saindo da escola, já com os materiais no carro, a diretora Valmira, pediu que esperássemos um pouco. Fiquei surpresa ao descobrir o motivo da espera: a pedido da diretora, o coordenador foi até a pequena padaria da cidade para nos oferecer os produtos ali fabricados. Como ela mesmo disse, produtos da terra, feitos ali mesmo para serem consumidos pelos moradores. Isso me emocionou. Me senti privilegiada por nos presentearem com algo tão particular: pães, bolachas e biscoitos de diversas formas e sabores. A sacola simples não dava conta de conteúdo tão significativo. Pouco nos importava o valor das iguarias, pois o que estava mesmo colocado diante de nós era o carinho e a alegria de nos fazerem sentir em “casa” e levar conosco um pedacinho do sabor daquela terra.
Que delícia!
4 comentários On Escola Municipal de Ensino Infantil e Fundamental Maria Quitéria
Que projeto lindo, pessoas lindas! Meus parabéns!
Obrigada minha linda!
Parabéns, Socorro Lacerda. Seu trabalho é encantador 💗
Obrigada! O melhor de tudo foi conhecer tanta gente bacana. Beijos!