Chegamos à escola bem antes das crianças e das professoras. A espera foi tranquila e nos permitiu conhecer o entorno e apreciarmos um juazeiro carregadinho e perfumado. As chuvas dos últimos dias nos presentearam com um delicioso cheiro de terra molhada e folhas orvalhadas de pequenos arbustos roçando nossas pernas.
Não demorou muito para crianças e jovens chegarem timidamente com olhares curiosos e sorrisos tímidos sufocados por mãos côncavas. Foram se aproximando e logo iniciamos uma conversa descompromissada que, em seguida, nos levaria a momentos de muito carinho e cumplicidade.
Com a chegada das professoras e os combinados para a organização do espaço, tudo foi ficando mais colorido. As crianças se prontificaram e animadamente nos ajudaram a levar os nossos materiais para dentro da escola. Rapidamente o cenário ficara pronto, as crianças sentadas no chão, em frente a uma grande colcha de retalhos onde me sentei para mais uma sessão de contação de histórias, não escondiam a ansiedade em saber o que aconteceria ali.
A participação das crianças foi bastante efetiva e animadora: principalmente quando nas histórias tinham trechos de repetição. Na leitura do cordel em que escrevi, contando a história da cidade, uma das crianças conhecia parte dessa história e nos antecipou que o nome da cidade Água Branca foi escolhido graças a um índio que morava na região e, certo dia, saiu com o filho de um fazendeiro para caçar. Ao se perderem na mata, o índio subiu em uma árvore para se localizar. Ao descer da árvore seguiu uma trilha que o levou até uma cacimba. Ao mergulhar as mãos na água e levantá-la, ele exclamou que a água era branca. Ao ler o cordel e perceber que estava certo acerca da origem do nome da cidade, foi visível o orgulho com que a criança se mostrou diante dos colegas. Ele não precisou falar nada, seus olhos altivos e sua postura corporal ereta denunciavam o quanto mostrar-se sabedor de uma resposta para uma pergunta feita sem planejamento, o levou a reconhecer-se capaz de participar daquele momento de forma cada vez mais efetiva. Sua autoestima foi aos ares.
Ao finalizarmos nossa visita àquela escola, atos simples como colocar um instrumento musical em uma caixa organizadora, recolher e selecionar pequenos objetos ou abraçar colchas de retalhos e tecidos diversos que enfeitaram o cenário, eram motivo de orgulho e contentamento além de revelar-se a forma mais sutil e verdadeira de dizer que aqueles momentos ficarão em suas memórias como oportunidades e possibilidades para desvendarem um mundo de faz de conta que pode muito bem se tornar real. Isso é tudo o que queremos.
A EMEIF Manoel Francisco de Moura localizada no Sítio Paizinho, conta com duas salas de aula multisseriadas, duas professoras e duas senhoras responsáveis pela limpeza e conservação dos espaços e preparo da merenda.