Generosidade! Essa é a palavra

 

 

Uma quadra coberta e espaçosa foi o lugar que utilizamos para contar histórias na cidade de Palmópolis – MG. Concentradas nesse local, as escolas EM Cecília Meireles e Pré Escola Pequeno Notável foram divididas em seis grupos para as seis sessões anteriormente agendadas. As sessões aconteceram nos dias 25 e 26 de outubro, nos períodos vespertino e matutino.

Apesar de ter sido contações intensas e numerosas não houve cansaço ou desânimo. Cada turma que chegava trazia, em sua agitação inicial e correria para ficar nos lugares da frente (embora sentadas no piso rústico da quadra), uma energia que se renovava cada vez que as turmas iam se alternando. Com as crianças, chegavam também professoras, professores e educadores em geral, animados, igualmente curiosos, atenciosos, dispostos a organizar as turmas, fazer companhia às crianças e ouvir as histórias com a mesma atenção e respeito com que as crianças também ouviam. Ouso dizer que crianças eram todas as pessoas que estavam ali, inclusive nós que tentávamos contar as histórias como se fosse a primeira vez.

Com a preocupação de acompanhar as várias turmas de crianças e garantir que tudo desse certo com cada uma delas, os educadores assistiram muitas vezes a contação da mesma história. Porém, nas observações que costumo fazer da reação das pessoas para que costumam assistir, não vi cansaço ou desânimo nessas repetições. A busca de novas versões para a mesma história, novos gestos em verdadeiras dramatizações, elementos sendo acrescentados ou reduzidos, ênfase nas falas de alguns personagens, improvisações, tudo era motivo para que as histórias ganhassem novas nuances que ouvidos atentos e olhos curiosos reconheciam como diferentes. Um desafio que se tornou uma gostosa brincadeira entre eu e os ouvintes.

Na maioria das contações de histórias, ao terminarmos a apresentação, as crianças desejam conhecer os brinquedos ou adereços utilizados, brincar, manipular, observar para descobrir como eram feitos os brinquedos artesanais e contar suas próprias histórias usando os mesmos objetos que acabaram de ser usados por mim. Em Palmópolis, essa ordem se inverteu. O manuseio de objetos foi trocado pelo chegar perto, abraçar, querer saber um pouco mais sobre nós, tocar nas roupas coloridas e fazer verdadeiras cirandas entre abraços carregados de movimentos e a chegada de mais gente formando uma massa de carinho e de gratidão que eu ainda não havia experimentado. Calor humano, respeito mútuo, generosidade. Isso mesmo! Generosidade foi a palavra materializada nos gestos de quem, no abraço ou no olhar, se sentia juntinho uns dos outros.  Abraços revestidos do contraste entre proximidade e distância como se o espaço físico se diluísse em um tempo que não pretendia ser consumido pela buzina do ônibus que os esperava nem pelo som da campainha indicando que o tempo do faz de conta havia chegado ao fim.

Em Palmópolis não foi aula, não foi contação de histórias em que um conta e o outro ouve, onde um ensina e o outro aprende, foi encontro de saberes, de quereres, de aprender mútuo e genuíno sem a preocupação dos rigores que a escola pensa ser fundamental para a aprendizagem. Ensinei e aprendi que no gesto se constrói o respeito, no ouvir percebe-se o compartilhar dos saberes, no falar se divulga o aprendido, os vários odores que aquela gente e aquele espaço exalavam impregnavam meus sentidos de “sentido” sobre o que fazíamos ali, dos valores que experimentávamos, da importância de conhecer gente e se fazer gente, na grandiosidade de, depois do abraço, não sermos mais os mesmos, principalmente porque todos nós perdemos o medo de experimentar o novo e por isso mesmo aprendemos a lidar com ele.

Ao sair do encontro com pessoas tão especiais, trouxe comigo a bem aventurança de sermos humanos, o exemplo da disposição e disponibilidade de educadores e educadoras que acreditam no que fazem e arregaçam as mangas para realizar o que acreditam, para deixar suas marcas impressas nas memórias que estão sendo construídas em crianças e adolescentes que se espelham nesses educadores e educadoras para continuarem querendo ser muito mais do que essa sociedade injusta parece lhes oferecer ou reservar.

Em Palmópolis, a grandiosidade do ensinar e do aprender está no olhar atento de quem os acompanha nas saídas e chegadas à escola, nos intervalos entre aulas, na fila para pegar o lanche, nos momentos de brincadeiras do recreio, na espera pela atividade “diferente” daquela do cotidiano em que o descarregar de materiais estranhos vai ganhando forma em uma colcha de retalhos e uma mala que, quando aberta, pode fazer sair de dentro dela a simplicidade de uma semente que nunca germinará porque fora queimada, ou um lobo insatisfeito com sua aparência e querendo  mudar de cor para depois descobrir que o bom mesmo é ser apenas lobo.

Bom mesmo foi ter tido a oportunidade de conhecer aquelas pessoas que com seu olhar atento aguçam os nossos olhares para reconhecermos que somos importantes no que fazemos e, como o lobo nos ensina, ser quem a gente é: “é o  maior barato”.

Obrigada a todas as pessoas que nos rodearam e nos abraçaram, que nos fizeram ensinar e aprender de uma forma tão bela, que nos deram o carinho que tanto precisamos para seguir contando as nossas histórias e acreditando que, dessa forma, deixamos por onde passamos a nossa esperança em ver devidamente valorizada a escola enquanto espaço com múltiplas possibilidades e levamos conosco o sentido da dialeticidade do aprender e do ensinar como prática construtora do saber com seus sujeitos em movimento e humanizados.

Poderia ter sido mais uma contação de histórias como as muitas outras que já fizemos no decorrer do nosso projeto. Se assim fosse, experimentaríamos alegrias infindas, recepções calorosas, ia parecer tudo muito óbvio, porém, como diz Paulo Freire: “A experiência nos ensina que nem todo óbvio é tão óbvio quanto parece”.

Obrigada e contem sempre conosco.

 

Socorro Lacerda e Lucio Lacerda

Comunidade Quilombola Paraguai

“A Comunidade Quilombola Paraguai, pelo que nossos antepassados falam, era só mata e vieram os escravos que fugiram da escravidão e se refugiaram aqui nas matas e pelo que meus avós falam, antes aqui não tinha limite de cerca de nada, era tudo junto, todo mundo podia criar animal e plantar, só que no decorrer dos anos vieram os fazendeiros e hoje nós estamos bem apertados, limitados mesmo. Aqui, essa área da escola, por exemplo, é uma área que tá na mão dos fazendeiros, os arredores todos são dos fazendeiros. Nós somos uma comunidade que tem 60 famílias e, dentro dessas 60 famílias, nossa área está bem limitada, mas nós estamos na luta, buscamos pelos nossos direitos e vamos ver se nós conseguimos nossos direitos quilombolas. Nos últimos anos está mais difícil ainda.” (Depoimento – Neuzelia Marques de Matos )

Essa fala da professora Neuzelia me fez pensar como a luta pela terra, mesmo que esta já lhes pertença de fato, ainda necessita de uma longa jornada para que se viva esse direito. Historicamente, os donos da terra eram quem podia mais, quem tinha condições de fincar sua estaca e delimitar seu território independente de a quem pertencesse determinado pedaço de terra. Continua sendo até hoje com os que se acham donos do poder ou confiantes na impunidade. Diferente disso, quando os antepassados da professora Neuzelia chegaram aqui, onde vivem até hoje, as terras ainda não tinham dono.

Depois de ouvir esse depoimento fiquei bastante curiosa para saber como, uma pessoa que tem luta tão desafiadora pela terra que pertenceu aos seus antepassados, lida com uma turma de alunos que também mora na comunidade que antes pertenceu a seu povo sem limites de cercas. A monitora Nagila Matos Cunha, (sua prima) e a grande maioria dos alunos é da própria comunidade.

Ao nos acomodar em uma sala da escola, contei minhas histórias, conversei com os alunos, fui ao “terreiro” da escola brincar com as crianças e tomei um café com os famosos biscoitos mineiros que nos foi servido em um recipiente coberta com um paninho “alvo” que só vendo. Ainda tive tempo de apreciar o florido jardim que fora plantado com cuidado e delicadeza.

A luta de sempre daquela comunidade não tirou a alegria de ninguém, todos estampavam no rosto moreno um sorriso escancarado e a inquietação de olhos que saltitavam curiosos tentando adivinhar qual era o som produzia pelos instrumentos que eu manuseava (usei apitos com sons de pássaros para contar algumas histórias), ou que brinquedo era aquele que ao fazer girar provocava um som estridente e cadenciado (eles não conheciam o rói-rói – brinquedo nordestino). A festa daquele momento se contrapunha a luta cotidiana para se viver com dignidade. A mesma luta que extrapola a questão da terra e invade outras questões sociais, relacionadas a escola e a reclamação pelo funcionamento efetivo do posto médico, anexo a escola.

Além de todas essas questões, um acontecimento fascinante percebido na Escola Enedina Alves Brandão foi que as crianças contavam histórias que ouviram dos pais ou dos avós. Mesmo identificando o uso de celulares com algumas crianças o costume das histórias contadas, em algumas famílias, ainda permanecem. Uma dessas histórias que muito me encantou foi contada a aluna, Ana Lara, por seu pai.

Alunos uniformizados, educados, prontos para nos receber de forma calorosa e dispostos para nos mostrar as brincadeiras que sabiam e comentar as histórias que ouviram de mim. Pediram para manusear e brincar com os materiais que usamos, nos mostraram os cartazes que haviam feito e decoravam a sala de aula, os livros que tinham em uma estante no canto da sala, tudo com uma alegria contagiante.

Foi difícil sair dali, ainda mais quando a professora Neuzelia falou que depois que saísse da escola ela, junto com sua família, iam colher hortaliças e preparar temperos para vender na feira livre que aconteceria no dia seguinte na cidade de Felisburgo. Lamentei não poder ir junto fazer a colheita. Seria uma excelente oportunidade de vivenciar o cotidiano de pessoas que tirar da terra o produto como resultado de um trabalho árdua em terra que ainda não têm garantia de ser de quem está produzindo alimentos que lhes servem de sustento. Adoraria sentir o cheiro daquela terra perfumada pelas ervas daquela colheita, pela terra molhada com água vinda de um poço e pela companhia de mãos calejadas de quem não tem medo de trabalhar plantando, colhendo e lutando por uma terra que já lhes pertence.

Não pude ficar para colher as hortaliças e preparar os temperos, mas no dia seguinte fui à feira abraçar minha já amiga Neuzelia, comprar seus produtos e me surpreender com as pessoas que encontrei junto a ela: seu pai e sua filha, três gerações de uma mesma família buscando de forma digna sobreviver em um mundo tão injusto.

Foi na Comunidade Quilombola Paraguai que abracei e me senti abraçada, que me identifiquei com a educação feita de forma tão genuíno e, principalmente com a certeza de que “a luta é todo dia.”

 

Socorro Lacerda de Lacerda

 

 

Subindo, sempre subindo…

Tinham nos avisado que a Cidade de Santo Antonio do Jacinto ficava em cima da montanha e que “quando você pensa que já chegou, ainda tem mais estrada para subir”. De tanto ouvirmos isso, fomos prontos para uma longa subida. O que não falaram com a mesma ênfase foi que para chegar aquela cidade a paisagem era tão exuberante que subir não foi nenhum problema.

Apesar de termos percorrido 107 quilômetros de estrada de terra, o trajeto foi feito com tranquilidade e, mesmo quando algum trecho da estrada não era dos melhores e o Lucio reclamava falando que era uma vergonha ainda ter estradas naquelas condições, eu justificava dizendo que, se a estrada fosse asfaltada certamente não teríamos tempo para apreciar tamanha beleza.

Entre montanhas e vegetação nativa da mata atlântica, pedras gigantescas pareciam ter sido colocadas a mão, estrategicamente, como decoração de um jardim particular. Pedras cortadas e seus retalhos despojados por caminhos íngremes que não teria a menor beleza se fosse diferente daquilo. A montanha vista ao longe, ora de um lado do caminho, ora do outro, de repente aparecia à nossa frente, majestosa, imponente, como se nada além dela precisasse existir. Uma brincadeira de esconde-esconde que só a natureza e os caminho traçados pelos pés de homens e mulheres que por ali passaram durante séculos era capaz de nos fazer entrar nessa brincadeira.

Quando mais uma gigantesca pedra surgiu diante de nós, nos demos conta que havíamos chegando a Santo Antônio do Jacinto, mas e onde está a cidade? Nos perguntamos duvidosos de que a cidade era realmente aquelas poucas casas, ao pé daquela pedra, que as deixavam ainda menores.

Resolvemos perguntar para alguém que encontrássemos pelo caminho. Não foi fácil encontrar “alguém”. As ruas (ladeiras) estavam desertas e isso também nos inquieto. Em baixíssima velocidade fomos seguindo o que nos parecia ser uma rua até avistarmos mais adiante, uma jovem que seguia a passos lentos:

– Por favor, aqui é a cidade de Santo Antônio do Jacinto?

Um pouco assustada pela inesperada chegada, ela respondeu que sim, com bastante simpatia.

– E como fazemos para chegarmos até o centro da cidade?

Ela olhou, surpresa e indecisa como que admirada por não sabermos encontrar o centro de uma cidade tão pequena e respondeu erguendo o braço em direção a rua a nossa frente.

– Pode ir rompendo!

Ir rompendo. Embora no dicionário romper signifique eclodir, aparecer, brotar, desabrochar, nascer, surgir. Dali pra frente “ir rompendo” foi nosso mote para seguir em frente, não pegar atalhos, não parar no meio do caminho, não desistir, vislumbrar um belo futuro, ir além e, consequentemente, chegar aos lugares onde desejávamos chegar e encontrando pessoas, que assim como nós, também estavam desejosas por romper com a mesmice do que lhes eram impostos.

Vamos romper juntos! Vamos contar histórias!

Socorro Lacerda de Lacerda

Uma História sendo recontada

Bruxa, Bruxa, venha a minha festa!, de Arden Druce é uma história que venho contando desde a primeira etapa do projeto “Conte lá que eu conto cá”. Acredito que seja porque, além de divertida e colorida, é possível contá-la fazendo uma interação entre as crianças, principalmente no final da história. O personagem, após convidar animais e seres fantásticos para sua festa de aniversário, convida as crianças que devem convidar outra pessoa e assim sucessivamente. A história termina em uma verdadeira festa. Na cidade de Bandeira não foi diferente, a história foi contada e as crianças adoraram.

No fim do dia voltamos para a pousada onde estávamos hospedados e o cansaço tomou conta de nós. Apesar de cansados, fazer comentários sobre as escolas, as contações, as crianças etc. é inevitável, pois geralmente vivemos em cada escola particularidades e descobertas únicas. Embora algumas seções tenham as mesmas histórias, crianças e espaços diferentes provocam um contar especial impossível de ser repetido em outras experiências.

A noite chegou, mas o cansaço não foi embora e, sem a menor cerimônia, pedi ao Lucio que fosse pegar alguma coisa para eu comer ali mesmo, no quarto. Ele também estava exausto, porém, como companheiro fiel, disposto e incansável não se negou e saiu para tentar encontrar algo. Como ele sabe que eu gosto de tapioca, resolveu levar uma para mim. A tapioca era feita na sorveteria, essas coisas extraordinárias que só acontecem em cidades pequenas, é, também, em cidade pequena que se torna possível ir em casa tomar banho e voltar rapidinho, o freguês espera. Enquanto esperava, Lucio sentou-se em um dos bancos da pracinha e ficou olhando a movimentação das pessoas que passavam e muito frequentemente paravam para conversar com quem iam encontrando, inclusive com ele. É importante falar que as pessoas da cidade de Bandeira são extremamente receptivas.

Nesse esperar, de forma surpreendente, ele ouviu alguém falando de forma enfática: “Bruxa, bruxa, venha a minha festa!”. Ouvir aquilo na pracinha da cidade lhe causou um certo estranhamento, impossível não ficar curioso para saber de onde vinha aquela fala. Não precisou procurar muito, ao virar-se para trás viu um grupo de crianças sentada no chão, ouvindo atentamente a Yasmim – uma criança que estuda em uma das escolas em que fizemos uma contação – contar a história numa reprodução do que ouvira anteriormente.

Ao voltar para a pousada, Lucio chegou eufórico e feliz, não via a hora de me contar o que acabara de assistir. Compartilhamos esse momento com uma alegria imensa, a história que contamos estava sendo reproduzida de uma criança para outras que não a ouviram, numa cidade onde crianças ainda brincam na rua e a pracinha ainda serve de espaço para se contar histórias em brincadeiras que dispensam equipamentos eletrônicos.

Talvez vocês achem pouco, mas para nós aquela cena já fazia valer a viagem. Embora acreditemos que de alguma forma os momentos que passamos nas escolas ficarão na memória de alguém que estava naquele momento conosco, nunca havíamos presenciado exemplo tão belo. Não é para se encher de orgulho e desejar que o dia amanheça rapidinho para continuar nossa viagem?

A felicidade do Lucio era tão grande por ter presenciado o momento, que Yasmim, de forma espontânea e sem a menor pretensão de nos mostrar nada, lhe presenteou.

Depois desse dia, não permiti que o cansaço me fizesse ficar na pousada sozinha. Sair era viver a possibilidade de, inesperadamente, se deparar com fragmentos do que compartilhamos das histórias que contávamos, dos momentos que vivíamos. Isso não é pouco.

A chegada

A primeira imagem que avistamos ao chegarmos à cidade de Bandeira é um morro forrado por casas construídas, como se tivessem sido cuidadosamente planejadas em linhas retas e sobrepostas, tornando a paisagem harmônica e deixando-nos curiosos para sabermos qual caminho levava os moradores para cada uma daquelas casas.

Nos assustou um pouco o minúsculo tamanho daquela cidade ao chegarmos e darmos uma volta para procurar um hotel onde ficarmos. Mal começamos nosso percurso e a cidade havia acabado. Pensávamos nós que tudo estava concentrado ao redor daquela praça, se olhássemos para baixo ou, daquele morro, se olhássemos para cima.

Era um domingo e a rua estava deserta, exceto por um bar onde bebiam alguns homens entre eles uma transexual superanimada e simpático que fez questão, antes que os outros o fizessem, de nos mostrar onde ficava a única pousada da cidade.
Instalados e com fome, encontramos na pracinha um lugar onde fazer um lanche para rapidamente dormirmos, pois no dia seguinte começaríamos as contações de histórias às 7h30m e seriam quatro logo no primeiro dia.
Contradizendo todas as minhas expectativas, posso lhes garantir que aqueles dias em que passamos na cidade de Bandeira foram alguns dos melhores no decorrer de nossa viagem.

Bandeira nos presenteou com uma deliciosa brisa nos finais de tarde, quando as contações acabavam e o assunto era como tinha sido cada uma delas. A delícia de tomar sorvete na calçada, conversar com os que por ali passavam com seus passos lentos, olhar as crianças brincando de esconde-esconde na pracinha e perceber como toda aquela receptividade e carinho com que nos trataram não eram senão o jeito natural de ser de cada morador que carrega consigo a bondade e gentileza como extensão do próprio corpo, no gesticular de suas mãos e na delicadeza dos seus olhares.

Descobri que aquelas casas não estavam construídas no morro, mas na colina, que o biscoito de polvilho não era uma banal guloseima, mas a identidade daquele lugar e que não ter acesso à internet, além dos momentos em que estávamos na pousada, não fazia a menor diferença, o mundo se concentrava naquela praça como uma “aldeia global” onde tudo o que importa está ali diante de nós.

Novos amigos, novos sabores, novos desejos, a cidade de Bandeira nos imprimiu um novo jeito de olhar para dentro de nós, sem a pressa com que nos acostumamos a olhar para a loucura do mundo.

Conte Lá Que Eu Conto Cá
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