Bandeira do Sul – MG: Uma Cidade Sonora

Uma praça em uma minúscula cidade entre montanhas, uma igrejinha singela à frente, belas árvores em seu entorno e pássaros cantando generosamente o tempo inteiro. Esse bem que poderia ser o cenário de alguma das histórias que eu conto, ou de outras que já li, entretanto, esse é o lugar onde estendi minha colcha de retalhos e recebi crianças e adultos para ouvir o que eu havia preparado para lhes contar.

Naquele cenário, em vários momentos me senti dentro das histórias. A sonoridade harmoniosa dos pássaros incansáveis serviu de trilha sonora para o “Ping” e suas sementes plantadas e sonhadas com belas flores que lhes garantiriam ser o herdeiro do imperador. À sombra das árvores fomos “Felipe”, o menino que amava a avó que lhe ensinou o que é saudade. Com as cores e tons presentes naquela pracinha tão especial, aprendemos que o amor pode ser de qualquer cor e de todas as cores e, finalmente com as crianças sentadas à sombra daquele jatobá, seus sorrisos e expressões diversos de contentamento, encantamento ou espanto me davam a sensação de que tudo o que eu desejava naquele momento era que o tempo passasse bem lentamente para que eu pudesse me impregnar de cada sentimento ali experimentado.

Eu, no centro da roda, tentava rodopiar, imitar animais e seus sons, me envolver em véus coloridos e em colchas de retalhos, badalar um velho chocalho e fazer do atrito entre centenas de tampinhas de garrafas coloridas o som de uma chuva que só cabia na história que eu estava contando. Entre a “ilha dos sentimentos” e a bela floresta onde vivia o curioso elefantinho cinza, transitávamos com toda a desenvoltura de que precisávamos para ir de um lugar a outro tão rápido quanto o barco da alegria.

Diante de mim e junto a todas as pessoas que me ouviam, estava Maria Clara com sua meiguice, alegria e um enorme desejo de trazer toda aquela fantasia para o mundo real. A cada história que eu contava Maria Clara encontrava uma forma de participar: repetindo falas, respondendo a pergunta de algum personagem, questionando as atitudes de outros, arregalando os olhos quando algum objeto ou movimento lhe pegava de surpresa, negando ajuda a personagens incompreendidos, se inquietando no colchonete onde estava sentada para mostrar que tudo o que ela estava fazendo era a forma mais genuína de uma participação efetiva naquilo que a havia envolvido enquanto cenário e lugar imaginário.

Maria Clara representa todas as crianças que, felizmente, não questionam a diferença entre o real e o imaginário, se importando apenas com o momento em que vivem. Sem medo, sem vergonha, sem censura e, principalmente, sem o rigor do adulto que sente a necessidade de nomear ou racionalizar cada sentimento, cada momento. E eu, feliz por encontrar essa menina, segurei em sua mão e peguei carona como se tudo aquilo nos pertencesse, como se tivéssemos entrado no mundo do faz de conta simplesmente para seguirmos encantadas até chegarmos a uma praça minúscula de uma cidade entre montanhas, com uma igrejinha singela à frente, belas árvores em seu entorno e pássaros cantando generosamente o tempo inteiro.

Obrigada à Bandeira do Sul – MG e a todas as crianças que rodearam minha colcha de retalhos e ouviram generosamente as histórias sem saber que a história mais bonita era eu quem estava vendo e ouvindo.

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Socorro Lacerda e Lucio Lacerda

10 comentários em “Bandeira do Sul – MG: Uma Cidade Sonora”

  1. Que coisa linda!!! Fiquei emocionada ao ler a sua descrição da minha pequena cidade, da pracinha e da igreja singela. É muito bom ver a cidade da gente pelos olhos de outras pessoas. Vcs contaram e encantaram. Obrigada por nos proporcionar tamanha alegria e satisfação, e por nos permitir embarcamos juntos nessa viagem tão bonita pelo mundo da fantasia. Um forte abraço.

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    • Karen, minha querida! Coisa linda é ler seu comentário, coisa linda é saber que gostaram de nossas histórias. Coisa linda é Bandeira do Sul seu povo acolhedor e esses pássaros cantando incansavelmente. Obrigada por tudo.

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  2. Que lindo seu trabalho amiga, a cada relato que leio fico curiosa, gostaria muito de um dia participar pessoalmente…quem sabe um dia…abraços e que Deus te abençoe sempre.

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  3. Coisa boa ouvir de outras pessoas elogios à nossa cidade. É a nossa cidade sendo vista com olhos de outras pessoas. Obrigada pela presença de vocês em nossa praça preferida e amada.

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