Cronograma

Cidades Escolas Datas Hor. São Fernando – RN Escola Municipal Luiz Conrado de Medeiros Sítio Ramada 28/05 9h Jardim do Seridó – RN Escola Miguel Arcanjo Pereira, sítio Brabo, 29/05 9h Jardim do Seridó – RN Escola Antônio Galdino, sítio Currais Novos, RN   30/05 9h Passagem Escola Carlos Monteiro de Oliveira Ensino Fundamental II … Ler mais

EMEIF Manoel Francisco de Moura – Sítio Paizinho – Água Branca – PB

Chegamos à escola bem antes das crianças e das professoras. A espera foi tranquila e nos permitiu conhecer o entorno e apreciarmos um juazeiro carregadinho e perfumado. As chuvas dos últimos dias nos presentearam com um delicioso cheiro de terra molhada e folhas orvalhadas de pequenos arbustos roçando nossas pernas. Não demorou muito para crianças … Ler mais

Olho D’água – I

 

Ir à cidade de Olho D’água-PB e contar histórias na escola do “Distrito do Socorro”, foi uma volta ao tempo. Ao tempo cronológico e ao tempo mnemônico que tanto busco e rebusco quando preciso evocar minha infância e adolescência. Quando penso em quem fui, quem sou e em tudo que constitui minha identidade.

Muitas foram as tardes em que minha mãe costurava em sua antiga máquina de costura, roupas para seus muitos filhos, enquanto compartilhamos leituras. Ela costurava enquanto nós líamos para nós e para ela. À noite, meu pai era o contador de histórias, a calçada era seu palco com público fiel que não poupava expressões faciais e corporais. Ríamos e nos assustávamos, o sono chegava e tentávamos afugentá-lo para ouvirmos mais uma história. São essas histórias que reverberam no meu mais intenso eu quando me percebo mulher, esposa, professora, mãe, avó e agora contadora de histórias misturadas entre as ouvidas, as vividas, as lidas e as inventadas como síntese de tudo que experimentei nessa minha trajetória que tento viver intensamente.

Foi na cidade de Olho D’água que aprendi a contar histórias com meu pai, que descobri o prazer e a alegria de ler, quando pegava livros na biblioteca da escola onde fui alfabetizada, onde me embalei no giro do pião, nas cantigas de roda formada por mãos entrelaçadas de crianças que flutuavam na poeira que levantavam no ritmo da pisada, no bailado da canção e dos seus versos rimados e repetidos, nos jogos de bolas de gude incandescentes e brilhantes.

Nessa cidade tive meu primeiro namorado, tomei banhos de lagoa, vi roupas quarando nos lajedos esbranquiçados pelo sabão que as lavadeiras usavam. Dancei forró, debulhei milho e feijão, admirei um céu estrelado sem interferência de outras luzes, rezei novenas e ladainhas, admirei girandolas circulando em fogo e rojões com seu barulho assustador. Nas procissões cantei cantos de louvor, na igreja rezei benditos. Vi secas e enchentes contrastando em um tempo diferente e incompreendido.

Nas ruas da minha infância, quando ainda eram de terra batida, acompanhei lavadeiras em passos lentos e elegantes equilibrando suas trouxas de roupas secas ao sol escaldante e branqueadas com anil dissolvido em grandes bacias de alumínio que mais pareciam poços espelhados. Brinquei com carrinhos feitos com latas, bois inventados com ossos, casinhas e seus guisados em panelas minúsculas feitas pela louceira Maria Vicente.

Inesquecível foi comer o pão enxertado com doce de coco caprichosamente preparado pela Tinane, o cuscuz de arroz, a pamonha e a canjica, os bolos preparados em fornos à lenha e as latas de sardinha e goiabada servindo de fôrma para os bolos de Tonha Felício

Passear na feira, aos sábados, era um verdadeiro deleite, buscávamos novidades, ouvíamos os vendedores e seus pregões, o rouge e batons das matutas, a brilhantina lustrando os cabelos de rapazes vaidosos, a última moda, os picolés coloridos, as chitas floridas, as sandálias entrelaçadas, os namoros iniciados e as conversas descompromissadas no beco da igreja.

Olho D’água é o meu berço cultural, não apenas porque, como já disse, me alfabetizei em um grupo escolar desta cidade. Mas, também porque tive o meu primeiro contato com autores que mais tarde fariam parte da minha vida em leituras frequentes e prazerosas. Drummond, J. G. de Araújo Jorge, Vinícius de Moraes, Machado de Assis, Manuel Bandeira, Augusto dos Anjos, José Lins do Rego e tantos outros. Nas Mil E Uma Noites viajei por lugares longínquos e belos, entre bruxas e fadas, anões e gigantes, princesas e plebeus, imperadores e seu palácios suntuosos, suas barbas azuis, seus olhos de esmeraldas. Além de autores e personagens que lia e ouvia, convivi com muitos mais que carrego numa mistura de real e fantasia sem me preocupar em classifica-los: João Salviano, “Profiro”, Cambota de Alvino, Maria Vicente, seu Manú, Nequinho de Zé de Eva, Chico Pé de Bola, Zé Maleiro, Dona Dedé de Piricoco, Derli de Lica, Maria de Zé de Deça, Nego Pepé, Seu Lau, Maria Vermelha, Chico Preto, Loreta, Zé Baleado, Zé Cidelino, Tinane, Nanô, Joana Gambarra, João Gato, Zé Cariri e tantos outros, dignos de passearem pelos enredos de Graciliano Ramos ou José Lins do Rego.

Se Drumonnd, em sua poesia Infância, ainda não tivesse dito “E eu não sabia que minha história era mais bonita que a de Robinson Crusoé”, eu diria agora.

Trago Olho D’água comigo e isso é bom. Isso é muito bom.

Socorro Lacerda de Lacerda

EMEIF Severino Firmino de Santana

Sítio Espuma – Água Branca/PB Para chegarmos a EMEIF Severino Firmino de Santana percorremos um pequeno trecho de estrada de terra em boas condições. Não foi difícil encontrar o pequeno prédio pintado de azul e branco. Ainda mais fácil porque as crianças e o professor já se encontravam a nossa espera e fizeram alvoroço quando … Ler mais

EMEIF Francisco Lopes da Silva – Vila Delmiro Barros

Contação de histórias na EMEIF Francisco Lopes da Silva – Vila Delmiro Barros, município de Água Branca – PB.
A escola é composta por apenas uma sala de aula multisseriada, 27 alunos, duas professoras e uma merendeira.
Tivemos a oportunidade de presenciar o horário do almoço e nos maravilharmos com a alegria das crianças e o carinho com que a comida foi feita e servida. Pratos fartos de comida típica da região: um saboroso arroz de leite, galinha caipira e batata doce. Impossível não almoçarmos juntos.
Tudo muito limpo e bem cuidado. O chão de um cimento brilhante e panelas de alumínio areadas com esmero, como réplicas de espelhos arredondados.
Contar histórias para essas crianças foi como tornar-me criança novamente e juntar-me a elas como iguais. Pude vislumbrar nos olhos de cada uma o desejo de serem inseridas nas histórias que eu contava sem perceberem que o que eu via ali, diante de mim, era mais intenso do que qualquer faz de conta.
Ricos momentos de cumplicidade e afeto.

Conte Lá Que Eu Conto Cá
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