EMEIF Severino Firmino de Santana

Sítio Espuma – Água Branca/PB

Para chegarmos a EMEIF Severino Firmino de Santana percorremos um pequeno trecho de estrada de terra em boas condições. Não foi difícil encontrar o pequeno prédio pintado de azul e branco. Ainda mais fácil porque as crianças e o professor já se encontravam a nossa espera e fizeram alvoroço quando nos viram chegar.

Encontramos uma sala de aula multisseriada, o professor Yuri Veras que estava substituindo a professora Joana Darque, e Dona Tereza, uma merendeira que já havia servido o lanche para que, ao chegarmos a sessão de contação de histórias não fosse interrompida. Lanche é um modo de dizer, foi servida uma macarronada preparada com carinho e cuidado. Pequeno gesto de boa vontade que tornou nosso trabalho tranquilo e sem interrupções.

Nas conversas que tivemos, foi interessante descobrir coisas que nos fizeram ver aquela escola como extensão de uma família que desde seu início trata-a como parte de sua casa, sem em nenhum momento monopolizar ou tratá-la como propriedade privada. O nome da escola é em homenagem ao bisavô do professor Yuri, sua avó foi a primeira professora daquele lugar e a Dona Tereza, que nos recebeu com tanta alegria, é mãe do mesmo professor.

Ao saber que “Dona Pureza”, avó do Professor Yuri e primeira professora da Escola ainda vivia e morava ao lado da escola, não contive minha curiosidade e fui conversar com ela. Como não querer ouvir a história de uma professora tão especial? Mal terminei de contar as histórias e corri para a casa de Dona Pureza para ouvir as suas.

Confesso que não foi fácil contar as histórias que havia planejado para essa escola. As crianças variavam do maternal ao 5º ano. Uma diversidade enorme de saberes, interesses e posturas. Em comum havia a enorme curiosidade em participar de forma visual e tátil de tudo o que fora colocado no espaço. Ao entrar cantando fragmentos da música “Meninos” de Juraíldes da Cruz, levando nas mãos uma réplica da lâmpada de Aladim e vestindo uma bata egípcia, não causei nenhum espanto ou encantamento. O que provoquei na verdade foi uma crise de riso em todas as crianças, o que dificultou muito a minha concentração. O material que eu ia usando em cada história causava mais admiração do que a própria história. Lembrei-me do que fala Regina Machado: “quando o/a contador/a de histórias precisa pedir silêncio ou chamar a atenção das crianças para ouvi-la é porque a história não é interessante o suficiente para chamar sua atenção”. As imagens coloridas para a história “Bruxa, bruxa, venha a minha festa” (Arden Druce), retalhos de tecidos com aplicação em feltro que ilustraram a história “Qual é a cor do amor?” (Linda Strancham) ou o objeto que imita o barulho da chuva que confeccionei com tampinhas plásticas era muito mais sedutor do que o que eu falava ou como eu falava. Não valia a pena desprender tanta energia para continuar contando as histórias, reduzi o tempo, encurtei o texto e convidei-os a subir no tapete em que só eu estava, até aquele momento, para manusearem os objetos, tocarem os instrumentos de percussão que estavam dispostos no chão, usar as máscaras de personagens diversos, confeccionadas em feltro, que ganhara da mãe de um amigo, apitar ocarinas bolivianas, ninar bonecas de pano, envolverem-se em lenços coloridos, ou, simplesmente, ficarem andando de um lugar para outro sem saber com o que brincar ou brincando com vários objetos ao mesmo tempo. Brincar sozinhos também não era cogitado, ao pegarem algo impulsivamente mostravam ao amigo que estava ao seu lado ou compartilhavam a alegria de ser o guardião do que escolheram.

O que fazer de melhor senão me misturar inteiramente a eles e experimentar cada um dos objetos como se fosse a primeira vez que estivesse vendo cada um deles?
Em minha infância não tínhamos brinquedos eletrônicos nem bonecas sofisticadas. Não contávamos com a internet nem com objetos diferentes do que conseguíamos no próprio espaço onde brincávamos. Por isso mesmo, o divertido era fazer os brinquedos, pois o tempo do fazer já era o tempo do brincar. Reportei-me a esses meus momentos de infância para compreender o que estava vivendo ali: para aquelas crianças, não era importante ouvir as histórias, o mais importante mesmo era entrar na brincadeira e inventar as histórias sendo, elas próprias, os principais personagens.

Essa não foi uma manhã de contação de histórias, foi um tempo indefinido de invenção, aprendizagens e descobertas numa extraordinária dimensão que ainda não sei precisar.

Socorro Lacerda de Lacerda

11 comentários On EMEIF Severino Firmino de Santana

  • Lindo texto! Me fez recordar um pouco da minha infância e do lugar onde morei.
    Parabéns Coquita, mais uma vez por este lindo projeto. Teve um ótimo jogo de cintura para lidar com essas crianças!

  • Estou simplesmente encantada com o sucesso do seu Projeto.
    Parabéns!!!!!

  • Coquita e Lucio , meus queridos , destes textos poderá surgir um lindo livro ! Não canso de ler os apontamentos no blog e indicar aos amigos . Bjs

    • Lu, tenho conhecido muita gente bacana e lugares de outro “Brasil” que parece ter parado no tempo. Ao voltar, terei muitas histórias para contar.

  • Muito bem. Foi um prazer enorme receber vocês Socorro Lacerda e Lucio Lacerda, seu projeto é maravilhoso algo verdadeiramente lindo e inspirador. Continue sempre com esse trabalho maravilhoso levando sempre o mundo da imaginação pras crianças.

    • Yuri, meu querido! Você não tem ideia da alegria que foi conhecer você e essa escola maravilhosa. Um grande abraço!

  • Em cada encontro desses, estou te acompanhando, de longe, porém bem presente em cada canto que estás. Estou embevecida com o seu projeto, sua alegria em desempenha-lo.
    Pois sou testemunha da preparação da saída para cada para local, do nervosismo do dia anterior, ainda mim falando, estou nervosa como estão esperando, isso chama-se compromisso, responsabilidade. Não se assuste minha irmã, estás bela com o seu projeto, você e Lúcio, seu cuidador e passeiro maravilhoso. Parabéns aos dois e sucesso. Beijo grande

  • Aqui de São Paulo, também estou acompanhando e tenho certeza de que está sendo uma grande realização. Parabéns. Cokita. Um beijo.

  • É muito lindo este jeito camaleão de saber ler o momento e se adaptar. Ah, como faz falta está coisa no mundo de hoje. As pessoas são engessadas e só sabem seguir um script pré estabelecido.
    Tenho certeza que as crianças vão guardar pra sempre na memória este momento lúdico e mágico.

Deixe seu comentário:

Seu endereço de e-mail não será publicado.

Site Footer